Pude sentir meus pés no orvalho novamente
senti a brisa e furor dos ventos marítimos
noturnos e legítimos na minha mente
posso ouvir em minha morada no fim de tarde, os pássaros a comunicar
que o por do sol está a se encaminhar
o vento leve me enebria em meio aos livros de infância que tanto mergulhei
aquela velha esperança, vontade de me deleitar, de não sair
novamente experimentei
meu caminho novamente vai me levar, não tão longe quanto uma enciclopédia Larousse, talvez
nem tão perto quanto a imaginação de A montanha encantada de Maria José Dupré, com toda sua altivez
me levará para minha historia, me cerco agora dos pinheiros em minha visão
aquele latejar tímido ameno do ar, esfriando meu coração
consigo tocar as teclas pretas e brancas de um piano que me parecia sempre infinito
me perder nos acordes de um violão, cantar não tão bem quanto recito
pude sentir a natureza, aquela que mesmo parecendo tão distante
delirante
é sua beleza
meu coração sente muita falta, aquela que pertence meus respirar
entre prédios suntuosos, avião a passar
sinto falta de ver somente pássaros... a me rodear
sinto falta dos teus lábios, cada beijo que me purifica
o sabor das amoras que te dedica
a beleza que dela se expressa
terror do tempo sem pressa
novamente estou aqui, um ano se passa para todos e dentro de mim
em um dia assim
ainda posso sentir o frescor das lembranças infantis
aquele doce, que de tão doce ninguém quis
doce era não ter crescido
e de certa forma um pouco de mim
desaparecido
agora enfrento a maldade do mundo
a inocência contra seres de caráter imundo
a criança, que como eu, criança, mendiga
ninguém costuma reparar, mas eu sim
e sei que o mundo a castiga
mas a natureza das coisas tão sábia soube me dizer
que no amor também haveria saber
agradeço a essa natureza que me trouxe o amor
verdadeiro, puro
cheio de cor
o amor de uma mulher, princesa
que assim como o lago que eu fitava
possui tamanha beleza
sinto falta de mim, veementemente
mas sinto ainda mais a sua falta
falta de minhas lembranças passadas
mas agora tudo é diferente
a realidade não mais me assalta
lembro das promessas faladas